sábado, 2 de janeiro de 2016

    Ai minha nossa
         Esta não foi apenas a reação da Bruxa do 71 quando vê Chiquinha com uma máscara aterradora, no bom episódio do filme de terror, no seriado Chaves. Foi também a minha reação, quando  li a notícia:
         Morre Helena Samara.
         Senti uma certa emoção ao ler sobre aquilo. Por mais que eu seja um fanático pelas séries –  fiquei ressentido e triste por alguns momentos. Não por que era uma pessoa de meu círculo de amizades ou de minha convivência. O motivo foi outro: sua voz acompanhou minha infância nesses anos todos. Quem nunca ouviu a voz suave e serena de Helena no papel da Dona Clotilde, durante  anos no Brasil? E a Vilma Flintstone? A sogra do Fred Flintstone, na dublagem recente do desenho? A Maureen Robinson, para aqueles mais antigos que curtiam os Perdidos no Espaço? E a Velha Kaedi de Inuyasha? Beatriz Loureiro que me desculpe, mas ela nunca vai conseguir substituir completamente Helena Samara no desenho do Chaves ou nas dublagens de 2012. Assim como ocorreu com Cassiano Ricardo, Tatá Guarnieri, Gilberto Barolli, Alex Marconato, César Leitão, e tantos outros.


 Helena Samara
         Lia Kalme, mais conhecida por Helena Samara, nasceu em Belo Horizonte e tem descendência letoniana.  Depois de anos de dublagem e atuação, quisera o destino que sua voz marcasse o Brasil na pele de uma velha senhora de vestido azul, que mora num apartamento de uma humilde vila.
      O principal feito de Helena foi dar uma tonicidade que coubesse bem em cada momento da bruxa na série, seja em diálogos engraçados, brigas ou nas cenas em que declara seu amor pelo Madruguinha. O sarcasmo da atuação de Angelines Fernández foi bem absorvido por sua dubladora, que marcou para sempre sua voz na história 
deste meio.

A Bruxa do 71, personagem a qual Helena emprestou sua voz
         Helena adorava a vida. Mário Lúcio de Freitas tinha uma relação afetuosa com a dubladora. “Se tem uma pessoa que tinha prazer em viver, essa pessoa era a Helena Samara. Seja na TV Paulista, no início dos anos 60, quando contracenávamos em seus Teledramas, ou nas dublagens atuais, colocando voz na Bruxa do 71, Helena sempre fazia tudo com muito amor e simpatia. Eu a chamava de mãe, pelas inúmeras vezes que contracenamos com ela fazendo esse papel. Com certeza sua passagem foi muito tranqüila. Era uma pessoa de muita luz”.

         A tecnologia acabou afastando os dubladores. Isso quem garante é o tambem falecido Osmiro Campos, voz do Professor Girafáles. “A convivência entre dubladores deixou de existir quando passamos a gravar as falas individualmente. De uns anos para cá a gente se cruza, eventualmente, quando entra ou sai dos estúdios. Coisas da tecnologia que avança, às vezes fazendo estragos”. Ele também recordou um momento em que sentiu muita emoção, acontecido um mês antes da morte de Samara: “Coisa de um mês, a Helena gravou algumas chamadas, com a voz da Bruxa do 71, para a rádio Metropolitana. Quando soube que eu faria o mesmo, como Girafales, me mandou um beijo por intermédio da produtora. Apenas eu sei que foi um beijo de despedida. Por certo ela não ficou sabendo que eu agradeci e retribuí”.


         A dubladora da Chiquinha, Sandra Mara Azevedo, também falou sobre sua convivência com a Dona Clotilde: “Pra mim é um misto de honra, admiração e prazer, falar sobre a Helena Samara! Quando eu a conheci, senti como se estivesse vivendo um momento mágico, porque de repente diante de mim todas aquelas vozes que embalaram a minha infância, em tantos seriados que eu tinha assistido, tomou um outro corpo e uma outra dimensão! E o mais incrível de tudo, é que eu não estava decepcionada! Porque acontece de você conhecer um ídolo destes e achar que ele não tem a ver com os personagens que “encarna"! Mas a Helena, não! Ela tinha a aura mágica dos grandes artistas, que ainda que emprestem a alma para os personagens, conservam consigo a parte criativa, que vem do “Divino”, que pertencia só a ela!
Mais tarde, convivendo mais com ela, eu já como diretora de dublagem, ela tinha uma forma de se expressar que me encantava: quando na boca do personagem sobrava bastante tempo pra ela falar o texto, ela dizia: ...Assim é melhor, porque dá pra interpretar mais!"
Bons tempos destes atores que gostavam de interpretar! Eu que tenho a minha paixão cultivada por tudo que é criativo, achava o máximo ela ter esta generosidade! Então, falar da Helena é só prazer quando me lembro destas coisas! 
Um dia, me vendo um pouco abatida por problemas pessoais, ela me ensinou uma receita que eu até hoje uso pra atrair prosperidade e bons fluidos que é a seguinte: “pegar folhas de louro, aquela planta que se usa muito como tempero, segurar com um pregador ou coisa que o valha, e queimar deixando a fumaça se espalhar pela casa”. Devo dizer que no imediato momento que comecei a fazer isto, meu astral e minha vida, começaram a reagir de forma mais positiva; o que me fez vir a dúvida: será que a Helena tinha mesmo interpretado todas aquelas boas "bruxinhas" ,nas quais ela se especializou,ou ela mesma é quem tinha levado a magia dela pra todos aqueles personagens? Prefiro não hipotizar nada, e deixá-la naquele "plano mágico "no qual eu sempre a via tão a vontade!”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário