terça-feira, 5 de janeiro de 2016

AS CARICATURAS QUE ME FAZEM CHORAR

Chaves, Chapolin e Chespirito são séries essencialmente humorísticas, marcadas por incontáveis diálogos, gags e bordões que estão até hoje na memória dos fãs de toda a América Latina, alguns já parte do cotidiano. Apesar disso, Roberto Gómez Bolaños nunca abdicou de acrescentar alguns momentos que provocam, ao invés de riso, uma vertente de lágrimas nos espectadores. São algumas sequências que, embora simples, possuem um belo potencial de emocionar, seja pela dor de uma cena ruim, seja pela reconciliação, reencontro ou despedida. seleciono aqui alguns dos momentos mais emocionantes de CH:

– Chaves é chamado de ladrão e vai embora da vila (O Ladrão da Vila, Chaves, 1976)


Até hoje um dos momentos mais lembrados pelos fãs pela capacidade de arrancar muitas lágrimas. Na vila, o ladrão Seu Furtado pratica alguns furtos  e depois de um deles, esconde um ferro de passar no barril do Chaves. Quico acaba encontrando o ferro e então Chaves chega à vila. Todos lhe olham com antipatia, ojeriza e parte para a humilhação do menino: “LADRÃO! SEU LADRÃO!”. É uma das cenas mais fortes da série, que fica mais dolorosa quando, em um momento noturno, Chaves sai da vila carregando sua trouxa. Auxiliado por uma trilha triste, Enrique Segoviano foca Chaves tocando o barril pela “última” vez. Um momento marcante e bastante emocionante.

– O clipe “Boa Noite, Vizinhança” (Os Farofeiros, parte 2, Chaves, 1977)

A saga de Acapulco é a preferida de 7 em cada 10 fãs de Chaves. Depois de sequências antológicas de humor, Bolaños acrescenta esta linda canção ao final do último episódio da saga, que até hoje serve como mote para despedidas – quem foi aos shows do Seu Barriga no Brasil e não se emocionou com esta música no final, tem um coração duro. Hoje há uma lenda de que a música seria homenagem para Carlos Villagrán, que saiu da série em 1978, quando a saga foi reprisada.  Acapulco foi filmado um ano antes da saída do intérprete do Quico.

O episódio “Feliz Ano Novo!” (Chaves, 1976)

Para o fã de Chaves, o ano só acaba mesmo quando o SBT exibe “Ano Novo na Casa do Seu Madruga” (1973) e “Feliz Ano Novo!” (1976). O segundo episódio não investe tão fortemente no humor como o primeiro, sendo pontuado por várias canções que são bastante emocionantes – como não curtir A Brincar, Ouça Bem, Escute Bem e a canção final Um Ano Mais? Filmado sem muita luz, o episódio dá aquela sensação irremediável de que o ano está terminando. E que todos tenham amor e paz…

  A reconciliação de Chaves e Chiquinha (O Dia dos Namorados, Chaves, 1979)

Quem nunca se envolveu em uma desilusão amorosa? Com menor gravidade, é claro, este episódio aborda a situação, na figura da Chiquinha. A filhinha do Madruguinha nutre um amor pelo Chaves, que só tem olhos para a Paty. Aqui, as crianças estão às voltas com um cartão de dia dos namorados da Chiquinha para o Chaves, que para em várias mãos até que a menina descobre que Chaves o deu para Paty. Chiquinha fica arrasada e vai para o segundo pátio, onde chora. Chaves vai ao seu encontro. Em uma cena sem diálogos, apenas olhares, os dois se abraçam forte. É uma das sequências mais arrebatadoras da série, em um episódio que não é exatamente o preferido de muitos fãs. Ao final, o episódio conclui com a bela canção É o Amor.

– A canção Queria Ter Sido um Pastor (Os Hóspedes do Senhor Barriga, parte 3, Chaves, 1979)

Assim como no caso do episódio de ano-novo, para os fãs de Chaves o Natal só chega mesmo quando o SBT exibe a saga de quatro partes Os Hóspedes do Senhor Barriga. Um dos destaques desta saga é sem dúvida a canção Queria Ter Sido um Pastor, que recorda o sentido espiritual do Natal, além do mero espírito comercial atualmente em voga.

– O reencontro de Chiquinha e Seu Madruga (O Retorno do Seu Madruga, Programa Chespirito, 1981)

Em 1979, Ramón Valdés deixou as séries de Chespirito. Sendo o personagem mais icônico, sua ausência foi muito sentida. Porém, ele retornou em 1981, onde já no Programa Chespirito, gravou diversos episódios por mais um ano com Roberto Gómez Bolaños. Para a volta, Chespirito preparou o esquete O Retorno do Seu Madruga, que mostra a chegada de Monchito à vila, para surpresa de todos. Já com uma aura de emoção, o episódio leva todos às lágrimas quando finalmente ocorre o reencontro da Chiquinha com seu papai. Maria Antonieta de las Nieves, em linda atuação, primeiro se paralisa de espanto, felicidade, surpresa, para então correr em direção ao pai e pular em seus braços. Um momento lindo, para celebrar perfeitamente a volta deste grande personagem.

– A sequência final de Cada Um Vale pelo que É (Chapolin, 1978)

Seu Mundinho era apenas um fiscal sanitário. Nunca fez nada de errado. Mas optou por imaginar ser o Chapolin Colorado, que faz coisas boas e ajuda os outros. Isto, entretanto, leva seus companheiros de casa à loucura. O verdadeiro Chapolin é chamado para tentar trazer Seu Mundinho à realidade. E na sequência final, ocorre a catarse do ex-fiscal sanitário. Chapolin discursa sobre a importância que todos têm, seja um professor, um policial, um burocrata ou um operário. Mundinho acrescenta: “eu fui fiscal sanitário. Nunca fiz nenhuma coisa ruim, nem recebi nenhum centavo para fazer vista grossa”. Eis que Chapolin dá o veredicto: “pois então você fez uma coisa muito mais importante que o Chapolin Colorado”. Uma bela cena para todos refletirem sobre o que são. Afinal, cada um vale pelo que é.



– A Despedida do Chapolin (1979)

No ano de 1979, Chespirito deu um fim à série do Chapolin Colorado. No lugar, entraria La Chicharra com as desventuras do jornalista Vicente Chambón. Bolaños então lançou mão de um episódio final para o seriado do Vermelhinho, rememorando bons momentos de temporadas passadas, canções como Os Astronautas, Payasos e El Chapulín Colorado. Depois disso, Rubén Aguirre inicia o encerramento: “sim, este foi o último programa do Chapolin Colorado”. Florinda acrescenta: “mas não é um adeus. E sim ‘até breve’. Porque um personagem como o  Chapolin Colorado sempre terá um lugar reservado na televisão”. Roberto Gómez Bolaños, então, vestido de Chapolin, mas com sua voz natural, faz os agradecimentos ao corpo técnico e artístico. Ele fala o último “não contavam com minha astúcia” e começa a andar, se afastando da câmera e desaparecendo, enquanto sobe uma trilha incidental magnífica. Eu particularmente choro todas as vezes que vejo esta sequência, pois fico imaginando como teria sido quando o episódio foi exibido no México. Para nós, que sempre temos Chapolin à disposição, já é emocionante. Imagine como foi para o público da época, sabendo que não teria mais o Polegar Vermelho na telinha. Difícil.

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