Chaves saturado x Chespirito capitalista
Nos últimos dias, surgiram dois temas muito polêmicos, sobre os quais eu gostaria de me manifestar. O primeiro deles: Chaves está ou não saturado? Deve sair do ar ou não? O segundo tema, igualmente polêmico: Roberto Gómez Bolaños foi um capitalista inescrupuloso, que só pensava em si e não se importava com ninguém?
Sobre o primeiro tema: CHAVES ESTÁ ENJOANDO? Algumas pessoas dizem que sim. O seriado, que está na nossa televisão desde 1984, é exibido desde o final do ano passado às 18 horas. Invariavelmente são transmitidos dois ou mais episódios.
Apesar do programa estar tendo um bom retorno em termos de audiência, com alguns anunciantes e presente no melhor horário possível, existem muitas reclamações. A pior delas diz respeito aos terríveis cortes, que acabam afetando o andamento da história dos episódios e irritando o chavesmaníaco, que quer ver seu programa predileto na íntegra, acompanhando todos os detalhes, seja por questões estéticas, ou para poder gravar.
A segunda reclamação é um pouco mais difícil de entender. Muitos estão se queixando das reprises excessivas do programa, fazendo com que um mesmo episódio seja exibido mais de uma vez por mês. Não me entra na cabeça que alguém que se diga fã do seriado possa estar se queixando disso. Afinal de contas, Chaves é reprisado desde 1984 e, muitas vezes, houve mais de uma exibição diária.
O fã pra valer é capaz de assistir duas vezes o mesmo episódio em um só dia, sem reclamar. Quanto aos cortes, até dou um pouco de razão. Como fã, não gosto de ver os episódios tesourados, e acredito que ninguém goste. Mas, temos que admitir, é melhor do que nada. Seria muito pior se o programa estivesse fora do ar.
Li coisas que me deixaram pasmo: muitos preferem que o programa saia do ar do que continue desse jeito. Ora, faça-me o favor. Como um fã das séries pode defender essa idéia? O importante é que Chaves seja transmitido, da maneira que for. Estando o programa no ar, fica muito mais fácil brigar por melhorias, como fim dos cortes e volta dos episódios. Não entendo muito bem essa matemática: o programa deve sair do ar para ser melhor tratado. Vai entender...
O segundo tema em discussão é o CARÁTER DE CHESPIRITO. Alguns dão o criador das séries CH como um grande capitalista, um homem que só pensava em dinheiro e que não estava nem aí para as pessoas. Segundo os críticos, Roberto Bolaños só se preocupou em lucrar, passando por cima de todos e não se importando com sentimentos como amizade, companheirismo e gratidão.
Em primeiro lugar: QUEM SÃO ESSAS PESSOAS PARA DAR OPINIÃO SOBRE O CARÁTER DE ALGUÉM QUE NEM CONHECEM? Pelo jeito que falam, parece que conhecem Chespirito intimamente. Não se pode fazer julgamentos sobre ninguém. Ou será que eles têm algum poder especial para entrar na mente das pessoas e julgar as suas ações?
As análises são feitas pelo que acontece na mídia. Os pontos-chave dos críticos: a saída de Carlos Villagrán, em 1978, e a continuidade do programa por 25 anos, recheado de remakes e saída de atores.
Sobre o primeiro aspecto: o ponto de vista de Villagrán é plenamente aceito: saiu porque Chespirito queria diminuir o seu papel. E quem disse que as coisas realmente aconteceram assim? Segundo todos os demais atores, Carlos saiu porque queria ganhar dinheiro sozinho. Acreditar em quem? Alguém estava lá para saber o que realmente aconteceu? É mais fácil acreditar em um só ou em todo um grupo que diz o contrário (Chespirito, Florinda, Edgar, Ruben, Maria Antonieta, etc)?
Quanto a continuação do programa: será que só porque Carlos e Ramón Valdez deixaram as séries, Chespirito era obrigado a encerrar tudo? Claro que não. O elenco era numeroso, e conseguiu dar muito bem conta do recado nos 15 anos seguintes. Bolaños encontrou soluções geniais para suprir as ausências: criou novos cenários, incrementou personagens, criou situações novas e, por fim, voltou com o Programa Chespirito, com novos personagens, histórias mais curtas e ágeis.
Sobre os remakes, deve-se levar em conta que não havia reprise das séries. Os programas iam ao ar semanalmente, e possivelmente não seriam mais exibidos. Portanto, perfeitamente natural que uma história fosse gravada de 3 em 3 anos, sempre com variações de personagens e uma ou outra mudança. O próprio SBT encontrou uma boa solução para esse problema: cancelou as versões mais antigas, deixando apenas as mais recentes em 1992,claro que isso não é mais um problema desde 2011.
Finalizando esse assunto: Florinda Meza, Edgar Vivar e Ruben Aguirre ficaram com Chespirito até o final, sem reclamar nunca. Será que eles são capitalistas também? Sinceramente não pareceu, Edgar foi de uma simpatia contagiante quando vem ao Brasil. Quanto à briga com Maria Antonieta: quem está certo? O criador da personagem, ou a intérprete? Outro caso de interpretação.
Por último, quero dizer que não tenho nada contra ninguém. Só não consigo entender certas coisas, o que deixei bem claro nessa coluna. Todos têm direito a ter uma opinião sobre determinado assunto. Mas não existe unanimidade em lugar nenhum do mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário