quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Os Desfalques CH: Acertos e Erros 

O assunto dessa minha coluna, como não poderia deixar de ser, tratará de mais uma das inúmeras polêmicas que envolvem os programas produzidos por Roberto Gómez Bolaños. Desta vez, vou falar sobre os desfalques que as séries CH tiveram com o passar dos anos. O que eu vou dizer aqui vai chocar a todos. Espero não apanhar na rua, como aconteceu com alguns atores que interpretaram vilões nas novelas da Globo. Bem, lá vai: QUICO E SEU MADRUGA NÃO FIZERAM FALTA. Antes de ser linchado, permitam-me explicar essa frase “absurda”, antecedida por um breve histórico da evolução do elenco CH. 

Como a imensa maioria dos fãs de CH sabem, o elenco do Programa Chespirito (estou incluindo os anos de 1973 a 1979, quando esse tradicional programa mexicano de uma hora de duração deu lugar aos programas de Chapolin e Chaves, com meia hora de duração cada um) não se manteve intacto. O que seria muito difícil para qualquer programa visto que foram 25 anos ininterruptos de gravações (sempre com sucesso, diga-se de passagem).   

No caso específico de CH, a evolução se deu mais ou menos assim (desculpem se eu cometer alguma falha, vou tentar ser o mais fiel possível à realidade): O programa começou, em 1970, com Chespirito, Ramón Valdez, Maria Antonieta de Las Nieves e Ruben Aguirre. Depois, entre 1970 e o final de 1971, foram chegando Edgar Vivar, Angelines Fernandez, Florinda Meza e Carlos Villagrán, respectivamente.






Chiquinha, em 1972, era a grande estrela do programa (fora o Chaves). Após a sua volta, em 75, sua personagem perdeu espaço para Quico.
No final de 1973, por razões ainda desconhecidas para nós, Maria Antonieta se afastou do elenco. Até então, sua personagem (Chiquinha) era a principal do programa, após o Chaves. O desfalque foi coberto, a princípio, dando mais destaque para Quico (Villagrán). Como havia a necessidade em alguns episódios de mais de duas crianças, foram criados novos personagens. Trabalho dobrado para Florinda Meza e Edgar Vivar que, além de seus tradicionais personagens (Dona Florinda e Sr. Barriga), ganharam Pópis e Nhonho. Como participação especial, foi criada Malú, a afilhada do Seu Madruga (Ramón, pai da Chiquinha).
Com a volta da Chiquinha, em 1975, os personagens Nhonho e Pópis ficaram em segundo plano. E a antes “vice-estrela” perdeu seu posto para Quico, e teve seu nome nos créditos colocado por último. Esta fase, entre 1975 e 1978, certamente foram os “anos de ouro” dos programas, pois o elenco estava completo e entrosado.
Episódio dos ioiôs, gravado em 1974, durante a ausência da Chiquinha.
  
Seu Madruga e Quico: desistências que marcaram para sempre as séries CH
                        
No entanto, uma bomba detonada no final de 1978 marcou para sempre o mundo CH: a saída definitiva de Quico. Para suprir sua falta, ocorreu o que já havia sido feito durante a ausência da Chiquinha: mais destaque para Nhonho e Pópis. Como se não bastasse isso, três meses depois, no início de 1979, outra perda irreparável: Seu Madruga (que fez uma participação especial nos anos 80), provavelmente por solidariedade a Quico. Para suprir outra ausência, durante o primeiro semestre de 1979, a solução provisória foram o incremento dos episódios na escolinha e maior destaque para o Professor Girafales (Rubén).
Em agosto de 1979, várias novidades, que visavam suprir as ausências, marcaram para sempre o seriado El Chavo Del Ocho. A criação do restaurante de Dona Florinda e o acréscimo de dois personagens: Dona Neves (Antonieta), a bisavó da Chiquinha, e Jaiminho carteiro (Raul Padilla). A princípio, Dona Neves substituiu Seu Madruga em todas as situações. Meses depois, perceberam que isso não daria certo, já que o papel duplo estava prejudicando a personagem Chiquinha, que tornou-se fundamental com as saídas de Quico e Madruga. Com isso, Dona Neves passou a ser uma personagem simbólica: morava com a neta (que não podia morar sozinha), mas nunca aparecia. A ausência de Madruga foi suprida por Jaiminho, que se mudou para vila. Substituiu em tudo: como o homem atormentado pelas crianças, alvo da paixão de Dona Clotilde (Angelines) e devendo aluguel para o Sr. Barriga. E assim continuou até o fim, com as saídas de Angelines e Raul, devido às doenças que resultaram em suas mortes. Pouco depois, em 1995, o programa acabou.                                       
                
Muitos consideram uma afronta o fato de Jaiminho ter assumido o papel que era de Madruga, e Nhonho o de Quico. Alguns defendem até que o programa deveria ter terminado em 1979, após a saída dos dois. Discordo totalmente. Sem dúvida, Quico e Seu Madruga eram importantíssimos dentro da série. Suas saídas modificaram totalmente o panorama CH. Mas ninguém é insubstituível. Temos exemplos nacionais, como o Sai de Baixo, que continuou mesmo após as saídas dos personagens Ribamar (Tom Cavalcante) e Edileusa (Cláudia Gimenez), e A Grande Família, que encontrou forças para tocar o barco após a morte de Rogério Cardoso, intérprete do Seu Flor. E o que não dizer da extinta Escolinha do Professor Raimundo e A Praça é Nossa, que ao longo dos anos sempre enfrentaram desfalques em seu elenco, e mesmo assim continuaram. Vejam bem que não estou comparando os programas, apenas as situações, os desfalques.
Sai de Baixo, outro programa humorístico marcado por desfalques
Raul Padilla, contratado em 1979 para suprir as ausências. Sua boa atuação ajudou na manutenção do programa.
Bolaños encontrou boas soluções para driblar as ausências. Em 1973, após a saída da Chiquinha, deu mais destaque para o Quico e criou novos personagens que deixaram a saída de Maria Antonieta passar quase desapercebida (notem que nenhum fã CH reclama da ausência temporária dela). Em 1978/79, acertou ao dar “soluções caseiras” para os desfalques. O incremento de episódios na escolinha driblou a ausência de Madruga durante o 1º semestre de 79. A contratação posterior de Raul Padilla foi muito pertinente, pois se tratava de um grande ator, muito engraçado. O surgimento do restaurante também, pois criou-se um novo point com diálogos e situações inéditas e que, como a escolinha, tiraria um pouco o foco da vila recheada de “fantasmas”. O único erro foi a personagem Dona Neves, na minha opinião a pior dos personagens de Chaves, que só sabia resmungar e tirar o espaço da Chiquinha, que quase não aparecia.
Na década de 80, outros acertos de Chespirito. Dona Neves sumiu, e Chiquinha passou a ter o mesmo destaque que tinha entre 1972 e 1973. O fato de Jaiminho passar a ser um clone de Madruga se explica pela importância na vila de uma figura como eles: atormentado pelas crianças, alvo da paixão da Bruxa, cobrado pelo Sr. Barriga e perseguido pela Dona Florinda. Nhonho e Pópis, revezando-se como Quico, também fizeram um bom papel (como o Quico de 72-73, um coadjuvante da Chiquinha e do Chaves). O fim dos programas Chaves eChapolin e a volta do Programa Chespirito foi a melhor coisa que Bolanõs poderia ter feito. A utilização de outros personagens antes ocasionais como Chompiras e Dr. Chapatin, bem como a criação do impagável Chaparron Bonaparte, deram um novo gás para a atração. Quem não ri com as loucuras de Chaparron e Lucas (Ruben Aguirre) ou com as confusões ocorridas no hotel onde trabalham Chompiras e sua turma?
  

Nhonho, criado para substituir a Chiquinha em 74, tornou-se o sucessor de Quico em 79. Embora sem o mesmo carisma do bochechudo, era um ótimo coadjuvante para Chaves e Chiquinha.
Outra vantagem da criação desse Programa é o fato de que todos os atores puderam ser melhor aproveitados. Por exemplo: se Edgar Vivar ou Raul Padilla não apareceram no quadro do Chaves, provavelmente apareceram em outra atração, como Chompiras, por exemplo. O programa tornou-se mais dinâmico, havia vários personagens, atores, situações, histórias e cenários diferentes.


Claro que concordo que as saídas de Quico e Madruga foram terríveis. Mas conseguiu-se criar soluções que as amenizaram e proporcionaram a continuação das séries por vários anos.

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