quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

chnobrasil3
piadas sem sentido

Para começar, uma fala que, por ser tão sem noção, acabou se tornando uma daquelas falas que todo mundo conhece:

Seu Madruga: - "Estou me referindo a caguetas"
Chaves: - 
"Não se diz cagueta, se diz chupeta"


Qual o sentido disso? O que tem a ver caguetas com chupetas? Para entender devemos assistir a versão em espanhol do mesmo episódio:
 
Seu Madruga diz: "Me refiero a gente delatora". Em português "Me refiro a pessoas informantes, dedo-duro". Chaves prontamente responde "No se dice delatora, se dice delavaca", ou seja, ele quer dizer que o certo não é "da toura" e sim "da vaca".

A dublagem em português acabou por criar uma piada totalmente sem sentido, afinal não é fácil adaptar palavras que não tem o mesmo significado ou fonética do espanhol para a nossa língua.

Apenas a título de curiosidade, na mesma sequência Seu Madruga pergunta a Chaves: "Por acaso você sabe como se chamam as pessoas que entregam a cabeça dos outros?". E Chaves com sua incrível sabedoria diz "Sei, são chamadas de carrascos, e são chamados assim porque eles cortam a cabeça das pessoas com aquela guilhotina que vem lá de cima".

No espanhol a piada é completamente diferente. Seu Madruga pergunta "como se llamam las personas que echan de cabeza otras personas", em uma tradução livre, "como se chamam as pessoas que entregam a cabeça de outras pessoas". Entregar a cabeça seria como dedurar o Seu Madruga para a Dona Florinda, assim como Chaves havia feito antes. Porém, o garoto entende a expressão "echar de cabeza" como "jogar a cabeça". E responde que "as pessoas que jogam as cabeças dos outros são os lutadores, que jogam a cabeça do outro no ringue e ganham porque o juiz levanta a mão". Repare no movimento da mão de Chaves nesta fala (no segundo vídeo acima). Já em português, para aproveitar o movimento do braço na dublagem, Chaves diz que a guilhotina é que vem lá de cima, e por isso o menino está com a mão levantada.

Logo após a piada dos caguetas e chupetas, Seu Madruga pergunta se Chaves sabe o que é um dedo-duro. O garoto diz que dedo-duro é um dedo esticado. Mais uma vez a piada em espanhol é outra. No original, Seu Madruga indaga se Chaves sabe o que é um traidor (em espanhol, traedor). O menino responde que traedor é aquele que traz as coisas. A piada ganha sentido quando vemos que o verbo trazer em espanhol é traer. Portanto, segundo Chaves, o traidor (traedor) é aquela pessoa que traz (trae) as coisas. Desta vez, pelo menos a dublagem conseguiu se virar melhor e a piada em nosso idioma até que ficou interessante.

Nossa segunda aula explicará uma piada que, mais uma vez, foi obra da genialidade de Marcelo Gastaldi e companhia, responsáveis pela adaptação e dublagem dos episódios. Vale lembrar que muitas falas no idioma original se utilizavam de gírias ou expressões locais para tornar a piada engraçada.

Pois bem, a fala de hoje é a seguinte:
Nhonho: - "Chaves, você nunca comeu lagosta?"
Chaves: - 
"Sim, ontem. Não se lembra que tínhamos duas tortas e você comeu uma e eu a outra?"
Chiquinha: - 
"Mas as tortas que comemos ontem eram de outra coisa, não de lagosta".
Chaves: - 
"Você comeu a que eu gosto e eu comi a que ela gosta"

Vamos então à versão original,

o diálogo em espanhol é bem parecido, Nhonho pergunta se Chaves já comeu lagosta e o menino do barril diz que comeu ontem (ayer). Então Chiquinha fica surpresa com a resposta e Chaves explica que ontem os dois comeram tortas, mas Chiquinha corrige dizendo que as tortas não eram de lagostas e sim de feijões (frijoles).

A partir daí o diálogo muda e podemos entender a piada. Chaves diz que Chiquinha comeu a torta mais ancha, ou seja, a mais grossa, mais recheada. E o menino comeu a l'angosta. O termo angosta pode ser traduzido como estreito, fino. Então, podemos deduzir que Chaves comeu a torta mais fina enquanto Chiquinha ficou com a maior. Repare bem no gesto que Chaves faz com a mão ao dizer l'angosta, indicando que a torta dele era a mais fina.

Todos prontos para mais uma aula? Então vamos lá, hoje iremos explicar a seguinte cena do episódio "Uma aula de história":

Prof. Girafales: - Nhonho, quais eram as tribos que habitavam o Brasil?
Nhonho: 
- Os tupis.
Prof. Girafales: 
- Sim, outra.
Nhonho, Chaves, Godinez, Pópis: 
- Os caquis... Os lambaris... Os sacis... Abacaxis.
Prof. Girafales: 
- Que história é essa de abacaxis?
Chaves: 
- Os petecas...


Os alunos da escolinha respondem várias palavras que terminam em "is" (detalhe para Godinez, que responde um "lambarês" bem estranho). Na vez de Chaves ele primeiro diz "abacaxis" para depois soltar "os petecas". A piada fica tão esquisita em português que mal sabemos por onde começar a explicar. Aliás, nem podemos chamar de piada pois a fala não tem o menor sentido. O que tem a ver o Nhonho com petecas?

Pois bem, mais uma vez vamos recorrer ao episódio no idioma original para compreendermos,

A diferença já começa na pergunta do Professor Girafales. Ele pergunta a Nhonho quais eram as tribos que habitavam o Vale do México, afinal não faria muito sentido perguntar sobre a história do Brasil em uma aula para alunos mexicanos, certo? Isto ocorre em vários episódios que se passam na escola, a dublagem brasileira adaptava as falas para termos mais, digamos, brasileiros.

Nhonho então responde que uma das tribos que habitavam o Vale do México eram "os astecas". Logo em seguida começa um show de respostas que rimam com "ecas": os caratecas, os discotecas, os bibliotecas... Até que Chaves responde "los Ñoños", apontando para Nhonho. O Mestre Linguiça se espanta e pergunta para Chaves o que ele quer dizer com "los ñoños". O garoto responde "los mantecas".

Chaves quis dizer que Nhonho era da tribo dos "mantecas". A palavra manteca em espanhol está relacionada a gordura, ou seja, Chaves quis fazer uma piada dizendo que Nhonho é da tribo dos "mantecas" porque é gordo. Simples, não? Nada de petecas, nem de abacaxis, nem de lambarêês.

Na explicação de hoje iremos entender qual a semelhança entre o tinteiro e a canção da ausência. Sigam-me os bons:

Nhonho: - Chaves, você sabe qual a semelhança entre o tinteiro e a canção da ausência?
Chaves: 
- Sim, é que a canção da ausência só pode ser cantada uma vez porque na segunda ela está ausente.
Nhonho: 
- Não, Chaves. É que o tinteiro tem tinta, muita tinta.
Chaves: 
- E a canção da ausência?
Nhonho: 
- ♪ Tinta, tinta, tinta ♫



A explicação da piada só é possível se conhecermos um pouquinho do folclore chileno, um estilo musical que tem em um dos seus representantes o grupo Los de Ramón. Eles são os autores da música Canción de Ausencia, que fez muito sucesso na América Latina, inclusive no México, país de Chespirito e seus personagens.

Pois bem, mas então o que tem a ver o tinteiro com a canção da ausência com o folclore chileno? Simples! Nhonho canta nada mais nada menos que a Canción de Ausencia usando um som característico (o "tinta") em vez de declamar a letra da música.

Vamos no idioma original para entender melhor:

Percebam a diferença entre a canção da ausência e o tinteiro?... Digo, perceberam a diferença entre o "tinta, tinta, tinta" falado por Nhonho em português e espanhol? Na versão na nossa língua ele fala um "tinta, tinta, tinta" genérico, sem ritmo, afinal a melodia da canção da ausência não faz sentido algum para nós, brasileiros. Já no idioma original ele se aproxima da melodia original. É o que nós fazemos ao tentar cantar uma música mas sem saber a letra. Quem nunca acompanhou uma melodia apenas com um "lalarilá lalarilá"?

A piada em si se dá pelo fato de Chaves tentar pregar uma peça na Chiquinha mas apenas assoviar a tal Canción de Ausencia.

Na explicação de hoje iremos descobrir se é verdade que se as capivaras tivessem trombas seriam elefantes. Pra começar, vamos relembrar o diálogo entre Chiquinha e Seu Madruga:

Chiquinha: - Me diga papi, por que os pássaros voam?
Seu Madruga: 
- Porque eles tem asas.
Chiquinha: 
- Me diga papi, por que os pássaros tem asas?
Seu Madruga: 
- Pela mesma razão que os elefantes tem trombas.
Chiquinha: 
- E por que os elefantes tem trombas?
Seu Madruga: - Porque se não tivessem trombas seriam capivaras.
Chiquinha: - E se as capivaras tivessem trombas seriam elefantes?
Seu Madruga: - Não. Seriam trapezistas de algum circo tchecoslovaco.

 
Será que um elefantes sem trombas parece com uma capivara? No espanhol, é um pouco diferente.


O início do diálogo entre pai e filha é idêntico ao português. A coisa começa a mudar quando Chiquinha pergunta o porquê dos elefantes terem trombas. Seu Madruga responde: "porque se não tivessem seriam huachinangos". Huachinango é um peixe bastante comum no litoral mexicano e pode chegar a pesar 20 kg. Por isso a comparação entre o peixe gigante e o elefante.

Em seguida, Chiquinha pergunta "e se os huachinangos tivessem trombas seriam elefantes?". Seu Madruga responde: "não, seriam tramoyistas de algum circo tchecoslovaco".

Tramoyistas pode ser traduzido livremente como "pessoa que monta e desmonta cenários", no Brasil conhecido como contra-regra. O sentido acaba sendo o mesmo tanto em português como em espanhol, pois trapezistas ou tramoyistas denotam que Seu Madruga queria dizer algo completamente sem sentido para expulsar logo sua filha do pátio e continuar trabalhando em paz.

Na explicação de hoje iremos entender as questões malucas que o "professor" Seu Madruga formula para os alunos da escolinha, enquanto o Professor Girafales namora a Dona Florinda no pátio. Acompanhe:

Seu Madruga: 
- Pópis, o que vale mais? Um quilo de tomates ou um quilo de cebolas?
Pópis: 
- Não sei.
Seu Madruga: 
- Reprovada!... Nhonho, o que vale mais? Um gol contra ou um oitavo?
Nhonho: 
- Não sei.
Seu Madruga: - Reprovado!... Godinez, o que vale mais? Uma corrida ou um terço?
Godinez: - Ao ar livre ou em quadra?
Seu Madruga: - Ahn.... nota 6!

Seu Madruga faz uma série de perguntas que não fazem o menor sentido em português, mas quando escutamos em espanhol as coisas começam a se esclarecer...  
O professor Madruga começa questionando Pópis: "qué vale más? Un kilo de jitomates o un kilo de cebollas?". Esta pergunta fica fácil de entender, pois o tomate geralmente é mais caro que a cebola. Vale destacar que a palavra jitomates vem da origem asteca do nome da fruta: xitomatl.

Já na pergunta para Nhonho começa a confusão. Seu Madruga indaga: "qué vale más? Un gol de campo o um touchdown?".

Gol de campo e touchdown são duas jogadas do futebol americano. Gol de campo (ou field goal) consiste em chutar a bola para que ela passe entre as duas traves verticais. Caso o jogador acerte o time marca 3 pontos. A pronúncia de Ramón Valdés dizendo touchdown é que pode criar mais dúvidas, mas é exatamente isso que ele diz (ou tenta dizer). Um touchdown vale 6 pontos, portanto mais que um gol de campo.

A pergunta feita ao Godinez é que merece uma atenção maior. O pai da Chiquinha pergunta: "qué vale más? Una corrida o una tercia?". Godinez retruca: "en aberto o en cerrado?", o que faz com que Seu Madruga encerre o questionamento e dê nota 6 para o garoto.

Sabe-se lá por qual motivo os mexicanos traduzem vários termos de esportes do inglês para a sua língua materna. Vide o termo field goal (gol de campo).

Corrida e tercia são combinações de cartas do jogo de pôquer. A primeira, também chamada de trinca (trhee of a kind), é a sétima combinação mais alta do carteado. Já a segunda, a sequência (straight), é a sexta combinação mais alta.


Mas o que isso tem a ver com en aberto ou en cerrado? Acontece que o pôquer possui uma série de variações, entre elas a aberta e a fechada, na qual os jogadores vêem as cartas dos seus adversários. Então, Godinez questiona se o Seu Madruga está se referindo ao jogo aberto ou fechado. Como ele parece não entender muito das regras do pôquer acaba encerrando o assunto e dando nota 6 para o menino.

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