quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

“Tão linda, com voz de sargento aposentado!?”


Na coluna anterior eu falei sobre os episódios perdidos, mas dessa vez eu resolvi falar de algo que para todos os fãs de Chaves e Chapolin (pelo menos eu acho), é insuperável e insubstituível. A razão pela qual os bordões, as frases, piadas dos episódios ficaram pra sempre na memória, não só de fãs, como também de milhões de telespectadores brasileiros. Estou falando, claro, daqueles que foram fundamentais para o sucesso das séries Ch no Brasil, durante todos esses anos. Desses artistas pouco lembrados (pelo menos antes da internet) e que merecem muito do mérito do alcance que o garoto do barril teve em nosso país. É lógico que você já sabe a quem estou me referindo: os dubladores.

Nos início dos anos 80, em um pequeno estúdio nas instalações da TVS, uma equipe de atores/dubladores esbanjava talento e criatividade ao dar um tom e jeito brasileiro a um recém-chegado seriado mexicano, que tinha tudo pra ser um fracasso, mas acabou obtendo um êxito sem par na história do SBT. Lá, nos Estúdios MAGA, trabalhavam os brilhantes profissionais que deram não só voz, como também personalidade aos tipos criados por Roberto Bolaños.

Como disse uma vez, em um documentário, o dublador Márcio Seixas (que dublou Leslie Nielsen, Raul Julia, Batman (no desenho), Balu (Tale Spin), entre outros): “Chaves é um dos mais perfeitos exemplos de dublagem já feita no Brasil. Todas aquelas vozes são uma perfeição, do primeiro ao último personagem. Todos são perfeitos.” E se um profissional deste naipe elogia a dublagem do Chaves, é por que é excelente. E não é pra menos. Quem assiste a algum episódio como o áudio original percebe toda a astúcia de quem habilmente adaptou os as falas e trejeitos, trazendo-os mais para perto de nós. Se as histórias nos fazem rir desde nossa infância, é graças ao jeito brasileiro dado por esses artistas da voz. Chaves, Chapolin e outros personagens do gênero não seriam engraçados, nem lembrados por tanto tempo no nosso país se não fosse por essas vozes, realmente, tão perfeitas.

Também merece crédito quem traduziu, adaptou e manteve os textos com a graça e simplicidade, próprias do nosso querido Chespirito e ao mesmo tempo deu uma cara nacional aos personagens hispânicos. Quem não se lembra de pérolas como: “Seu Madruga: - E tem mais, um empresário queria cuidar de mim. Quico: - Igual se faz com um neném?”, “Chapolin: Achatado eu sempre fico quando vejo uma pessoa chata”, “Seu Madruga: - E depois de apanhar tanto, quantas vezes você me viu levantar a mão? Chaves: Nenhuma, por que quem levanta a mão é o assaltado.”, “Chiquinha: você vai beijar ele??? Quico: Nem se eu fosse bailarino do Municipal!” , e centenas de outras frases improvisadas com toda a criatividade dessa dublagem que tem um sabor especial e único para todo fã Ch.

Eles são tão queridos pelo por esse público fiel, os chavesmaníacos, que apenas a substituição de apenas um integrante do elenco de dublagem já é o suficiente para provocar uma insatisfação geral. Não importa se a tecnologia evolui, se alguns vêm a falecer, as vozes verdadeiras e insubstituíveis são aquelas conhecidas a partir dos anos 80 e tornadas memoráveis até os dias de hoje. O único e legítimo Chaves brasileiro tem a voz do, entre nós, legendário Marcelo Gastaldi, com seus cagüetes e suas tiradas inesquecíveis que tanto nos deliciou ao longo de quase três décadas de exibição; o único Quico é o de Nelson Machado, que soube dar um molho todo especial, emprestando uma voz ao moleque bochechudo de um jeito que só ele sabe fazer, tornado um dos mais queridos e populares da série; o genuiníssimo Seu Madruga, só mesmo na voz de Carlos Saidl, que contribuiu e muito, na composição do queridíssimo personagem que mais tem a cara do Brasil; o Seu Barriga e o Nhonho do inesquecível Mário Villela também nunca tiveram outros que se igualassem, nem mesmo os do próprio Edgar Vivar, o intérprete dos personagens; a nossa Dona Florinda é a da Marta Volpiani, que não só emprestou sua voz e talento à velha carcomida como também a sua sobrinha, Pópis; jamais haverá outra Dona Clotilde como a da saudosa Helena Samara, que eternizou em terras verde-e-amarelas a voz da bruxa do 71; a Chiquinha são duas: Sandra Mara Azevedo que nos traz um gostinho nostálgico e nos remete aos desejados episódios perdidos e a simpaticíssima Cecília Leme que revestiu a personagem com um ar brejeiro que só a filha do Seu Madruga possui; um Professor Jirafales extremamente peculiar foi o de Potiguara Lopes, em seguida substituído pelo irretocável Osimiro Campos que com sua desenvoltura cunhou o Mestre Lingüiça com uma graça ímpar; o melhor Godinez foi e continua sendo o de Siltom Cardoso, que com sua voz, transmitiu com talento, toda indolência do personagem mais desligado da escolinha; o Jaiminho de Older Cazarré, que também é uma perfeição; a Paty de Leda Figueró, que soube ser única,etc,etc,etc... Poderia ainda falar de Luís Carlos de Morais, Eleu Salvador e tantos outros que contribuíram, com suas talentosas atuações, para o êxito de Chaves e Chapolin colocando para sempre seus nomes na memória dos seguidores e admiradores das séries.

Essa admiração talvez explique porque os episódios lançados em DVD’s não obtiveram o sucesso de vendas esperado. A maioria dos dubladores está lá, mas não é aquela dublagem tão toante que nos acostumamos a ouvir a apreciar desde criancinhas. O áudio digital em contraste com as imagens analógicas, algumas vozes envelhecidas, outras ausentes e substituídas... Enfim, pra você, eu e todos os fãs dos personagens CH, boas mesmos são aquelas vozes ouvidas em nossa infância, com aquele som meio abafado, reverberado, com jeitão de antigo, aqueles cacos que não saem da nossa memória, aquele gostinho especial de infância que a mídia digital não transmite. Seria bom mesmo ver os perdidos com a dublagem feita para o SBT. Quanto aos inéditos, ás vezes é preferível o áudio original a ouvir algumas traduções mal resolvidas nos DVD’s. Por essas e outras que foi produzido somente até o Box 8.

Assim, mesmo que o tempo passe, mesmo que redublagens aconteçam, mesmo que Chapolin e Chaves saiam do ar, o trabalho desses mestres jamais sairá de nossa memória. Pois, o que nos diverte há bem mais de vinte anos, não se acabará nem será substituído em nossa predileção. E enquanto o chavesmaníaco viver ele sempre vai se lembrar de: “Chaaaaaveeeesss...! Versão... MAGA!”

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