A HISTÓRIA DE DON JUAN TENÓRIO[1978]
Fotos de "A História de Don Juan Tenório": Mestre Maciel
Duas clássicas referências a esse personagem são feitas nos seriados: no episódio "A Catapora da Chiquinha", quando Professor Girafales e Dona Florinda se encontram, eles recitam poemas que se iniciam com "Oh, sim, belíssima Inês" e "Fala-te por Deus, dom Juan". E em "Microfones Ocultos", a senha secreta do bandido interpretado por Rubén Aguirre é "A Velha Inês". A história é de 1844 e foi escrita por D. José Zorrilla. O episódio começa com Chapolin apresentando a história. O herói informa que, no México, a peça costuma ser representada no dia de Finados ou nas vésperas e completa que o público já conheceu muitas versões do drama, mas que falta a sua (ou "a nossa", segundo as palavras do Vermelhinho). Ele se pergunta por que foi criada mais uma versão entre tantas. Chapolin responde com ditados como "Não há nada novo que dure cem anos", "O sol nasce velho" e "Não há sol que dure cem anos. Sendo novo, se já durou cem anos... vai durar um pouquinho mais". O herói anuncia a história de Don Juan Tenório "não como foi, mas como poderia ter sido". Eis os personagens:
Don Juan Tenório (Chespirito) e Dona Inês (Florinda Meza)
Don Luís Mejía (Rubén Aguirre) e o coveiro (Ramón Valdez)
Comendador Gonzalo (Edgar Vivar) e o criado (Carlos Villagrán)
Brígida (María Antonieta de las Nieves)
PRIMEIRO BLOCO - Numa cantina denominada "Hosteria del Laurel", D. Juan Tenório (Chespirito) combina com seu mensageiro (Carlos Villagrán): Quanto mais grito alheio/quero que um raio me parta/se terminando essa carta/não a ponha no correio. Essa carta que aqui vê/mais rápida que o vento/deve levar ao convento/e entregar à Dona Inês (Florinda Meza). Após entregar a carta, Carlos pergunta: Resposta devo esperar?. Que te importa, mensageiro?, responde D. Juan.Não se irrite, cavalheiro, devolve Carlos. Não me faça se irritar, é a tréplica de D. Juan. O mensageiro deixa o estabelecimento, ao mesmo tempo em que D. Luís de Mejía (Rubén Aguirre) aparece no local, com a capa cobrindo seu rosto, fazendo com que trombe com as paredes. Ao encontrar D. Juan Tenório, anuncia: Este lugar está comprado. Mais barato se alugado, responde Tenório. Esta é a voz de Mejía, diz Tenório. Observação acertada/mas também me admiro o que vois fazeis aqui(Mejía). Estou no canto de uma cantina/ouvindo uma canção que eu pedi (Tenório). Vejo que vós sois o Tenório (Mejía). Isso também é notório (Tenório). Cantineiro, da-lhe um garrafão/ para brindar uma aposta/que numa noite como esta/vai por conta deste anão.
Tenório e Mejía costumam fazer apostas sobre quem é mais galanteador
Lembra-te que faz um ano/apostamos otimistas/quem fazia mais conquistas/e provocava mais danos? (Mejía). Só não lembro se com tiro, facada, paulada, cassetada, mordida, pontapé ou com a mão (Tenório). Que tal se/mais do que depressa/parássemos de enrolar/e fôssemos ao que interessa (Mejía). O difícil é rimar/mas se assim dizeis/começa quando quereis (Tenório). Luís de Mejía abre um pequeno pergaminho. Bem, aqui estão/anotados os pecadinhos/alguns são inocentinhos/mas outros... você verá. A França foi por riqueza/foi tantas vezes que matei alguns franceses/e namorei muitas francesas/mas não conto outro dano/e omito por causas óbvias/porque tive tantas noivas/como os dias tem o ano. Do elenco muitos homens/que se por acaso duvidas/perguntem às suas viúvas/para que citem seus nomes. E se ainda quer que eu conte/e mentiras não invente/só namoradas quinhentas (Mejía). E quantos mortos? (Tenório). 120 (Mejía). Mas da mesma maneira agora/quero que escutes bem (Tenório). Escrevestes isto também? (Mejía). Não, ditei à minha secretária (Tenório). Don Juan Tenório desenrola um grosso e imenso pergaminho, para espanto de Luís de Mejía. Saqueei as aldeias/e os palácios conquistei/apesar de não me perder/não me pergunte como cheguei. Dominei muitos povos/arriscando a minha vida/fui pisado e sacudido/parecendo clara de ovo. A França foi por amor/que em francês se diz "amour"/claro está que foi num "tour"/mas à bordo do Concorde. Eu me lembro que em Paris/de todas as moças que amei/a primeira que eu andei/foi com a irmã de Dom Luís (Tenório). Minha irmã sempre foi séria/não acredito nessa afirmação/porque jamais andaria/com um ridículo anão (Mejía). Que pensaria se/ao invés da sua irmã/sem querer com a bela Dona Inês/eu tivesse tudo a ver? (Tenório). Parece um golpe perfeito/mas acho que ela preferiria ligar-se a D. Luís de Mejía/e não a qualquer inseto (Mejía). Ligar-se a D. Luís de Mejía?/permita-me que me ria (Tenório, que começa a rir de maneira debochada). Em vez de risada forçada/por que não saca a tua espada? Toma cuidado/que essa minha lâmina é dura (Mejía, que saca a sua espada e ameaça D. Juan Tenório). Casa de ferreiro/tanto bate até que fura (Tenório). Morrer por sua própria boca/é seu destino fatal (Mejía). Mas agora segura/que é hora do comercial (Tenório). Comicamente, Tenório e Mejía fazem o sinal de "C" com a mão, anunciando o comercial de maneira hilariante. FIM DO PRIMEIRO BLOCO.
Mas agora segura, que é hora do comercial...
SEGUNDO BLOCO - Na casa de D. Juan Tenório, ele, de joelhos, conversa com sua refém Dona Inês (Florinda), que dorme no sofá. Belíssima dona Inês/frágil como uma gaivota/está D. Juan a seus pés/e você dorminhoca. Inês se espreguiça. D. Juan se dirige a Brígida (María Antonieta de las Nieves), a horrorosa criada manca da casa. Ela sabe onde ela está? (Tenório). Nem a mais leve suspeita (Brígida). Pois cuide que não se vá/vou à primeira à direita. Ah, se meu criado regressar, diga que não demoro muito (Tenório). Não esquentes a cabeça (Brígida). Grato (Tenório). Às suas ordens, BONITÃO (Brígida).
Tenório reverencia sua refém Inês, que ainda está sob o efeito do clorofórmio
Logo após D. Juan entrar no banheiro, o mensageiro (Carlos) chega e se assusta com Brígida. Aí, uma bruxa em pessoa (Carlos). Não sou bruxa, sou Brígida (Brígida). Te olhando feia assim/pensei que fosse a Madame Min (Carlos). Brígida dá um tapa no estômago do mensageiro, que observa Dona Inês dormindo.É a Dona Inês? (Carlos). Certamente é/olha, parece que lhe deram clorofórmio (Brígida). Bem mais mereço/mas com isso me conformo (Carlos). Acho bom eu te avisar/que não pode conquistá-la/Dom Juan prometeu matar/a quem se atreva a olhá-la (Brígida). A mim pouco importa a morte/o que eu quero é me esbaldar/ah mamãezinha/que sorte tem os mauricinhos (Carlos). Pois está procurando uma noiva/a solução é muito óbvia/as parceiras já estão organizadas/aqui Dona Inês pra Dom Juan/Dona Eu pra Dom Ti (Brígida). A triste divisão/ah que destino ingrato/os filés para o patrão/e os restos para o gato (Carlos). Você fala as bobagens/dentro de uma evidência/que entre essa mocinha e eu/não há nenhuma diferença (Brígida, comparando Inês com ela mesma). Me perdoe o desacato/mas o contraste é evidente/aqui bela adormecida/aí uma múmia doente (Carlos, comparando Inês e Brígida). Que foi que disse, seu demente? (Brígida, que se aproxima do mensageiro mancando e lhe acerta mais um tapa no estômago).
Brígida dá em cima do criado, que a compara com a Madame Min
Dona Inês enfim desperta de seu sono. Oh, mas que horrível pesadelo/estou no purgatório? (Inês). Mas o que dizes, dondoca?/é a casa de Tenório (Brígida). Dona Inês se assusta com a feiúra do mensageiro. Oh não, minha nossa senhora das novelas/e de todo o dramalhão/serei eu a refém/de um Tenório bochechão?(Inês). Não põe o carro/na frente das vacas, carros ou bois/sois refém de um nanico/isso é o que sois. Esse não é seu galã/você acabou se equivocando (Brígida).Então quem é Dom Juan? (Inês). Esse aí que vem chegando (Brígida, ao ver Tenório voltando para a sala). Não sei se é fato ou fita/se é fita ou se é fato/o fato é que ela me fita/e eu a fito de fato (Tenório, na mais sensacional poesia do episódio, em verso que lembra um pouco o refrão do samba do Arranco, estandarte de ouro do Grupo de Acesso de 2006 "Sou a alma, sou a cara/sou o retrato/que retrata o que na alma/eu sou de fato"). Oh, Dom Juan, Dom Juan, mas que dor/já sem forças eu não falo (Inês). Seria dor de amor? (Tenório). Não, está me pisando no calo. Mas prossiga pronunciando/seu glorioso discurso/eu não tenho mais recurso/senão te seguir escutando (Inês). Dona Inês amada minha/luz da mais eterna beleza/eu passei todo o dia/na mais completa moleza. Eu dizia que reflete/a cor do mundo inteiro/se tens algum amor pendente/dá-lhe um chute no traseiro. Pois chegou quem estava ausente/e esse não consente nada. Não é verdade, anjo do amor/que nessa exata horinha/ia bem uma saladinha/de tomate couve-flor? (Tenório). Ah, Dom Juan, Dom Juan/eu imploro por tua fidalga compaixão/arranca-me o coração/ou ama-me porque te adoro (Inês). Deixa de lado o orgulho/bondosa criada da casa/e me dá um copo de sede/que estou morrendo de água (Carlos). Tem os tensos tão dedos/que até as dores me pernam/por isso os cantos pássaram/por isso os miados gatam (Brígida). Quanto mais eu apareço/mais assombração me reza (Carlos). Homens funêstos que acusam/suas mulheres têm razão/sem ver que são a relação/do mau juízo que delas fazem/se com desejos sem igual/querem arrancar seu perdão/porque as quereis então?/se fazem mal á digestão (Brígida). Bem agora que eu me ia/aí vem Dom Luís Mejía (Carlos).
Chorar e chorar... matar e matar...
Mejía (Rubén Aguirre) entra na sala. Por mais terras que eu percorra/não permita Deus que eu morra/sem que os faça chorar (Mejía). Tenório, Inês, Brígida e Carlos começam a cantar "chorar, chorar, chorar, chorar" (lembrando a serenata de Julieu para Romieta na hilariante segunda parte do episódio). Por enquanto, Dom Juan, tu existe/mas vai ficar muito triste/porque te vou matar (Mejía). Todos voltam a cantar: "Matar, matar, matar, matar". FIM DO SEGUNDO BLOCO.
TERCEIRO BLOCO - Sua atitude está no ar/vejo que está inspirado/como pretendes me matar/se não tem nada amolado (Tenório, que puxa a sua espada).A Dom Luís ninguém mata/mas se acaso vier pra briga/arranca tua peixeira/que eu vou virar tua tripa (Mejía, que também puxa sua espada). Que comece esse combate/já que tem vontade de ação/se isto acabar em empate/vamos ter prorrogação (Tenório). Os dois começam a lutar, até que Tenório pede "um minutinho". Ele pega um vaso e o mostra para Mejía antes de quebrá-lo na sua cabeça. Mejía desmaia. Brígida manqueja, se aproxima de Mejía, o analisa e conclui: Se querem ouvir a verdade/esse já vai deixar saudade.
TERCEIRO BLOCO - Sua atitude está no ar/vejo que está inspirado/como pretendes me matar/se não tem nada amolado (Tenório, que puxa a sua espada).A Dom Luís ninguém mata/mas se acaso vier pra briga/arranca tua peixeira/que eu vou virar tua tripa (Mejía, que também puxa sua espada). Que comece esse combate/já que tem vontade de ação/se isto acabar em empate/vamos ter prorrogação (Tenório). Os dois começam a lutar, até que Tenório pede "um minutinho". Ele pega um vaso e o mostra para Mejía antes de quebrá-lo na sua cabeça. Mejía desmaia. Brígida manqueja, se aproxima de Mejía, o analisa e conclui: Se querem ouvir a verdade/esse já vai deixar saudade.
Tenório e Mejía lutam por Inês, e o baixinho leva a melhor
Oh, aí vem meu pai (Inês). Põe coleira, senão ele sai (Carlos). É o comendador (Brígida). Sou eu mesmo, sim senhor. Onde está esse calhorda/que a minha paciência transborda? (Comendador Gonzalo, interpretado por Edgar Vivar). Com certeza, muito górda (Tenório, que se aproxima do pai de Inês). Comendador...(Tenório). Está de joelhos? (Comendador). Não, não estou de joelhos (Tenório). Perdão, é que... pelo tamanho (Comendador). Comendador, bom amigo/Dona Inês será minha um dia/e casando-se comigo/já ganha na loteria (Tenório). Toda a má sorte me escolta/todos os castigos são meus (Comendador, que se dirige à Inês e pergunta "Não era você que queria casar com o John Travolta?"). Eu posso estar enganada/mas esse homem que aqui está/por mais feio que seja/ainda é melhor que nada. Além do mais/eu não quero passar a vida sozinha/se lembra da Joana D'Arc/que morreu solteirinha? (Inês). Aqui rompe-se o acordo/espero que sem transtorno (Tenório). Quando engano se flagra/se tenta dissimular? (Comendador). Não pretendo disfarçar/é que tá difícil casar (Tenório). Falemos do presente/sem esquecer o passado (Comendador). A cavalo dado/nunca se olha os dentes (Tenório). E essas são palavras de amor/para uma mulher tão linda? (Comendador). É que pau que nasce torto/sempre morre torto (Tenório). Tua língua mata e condena/por isso deves morrer (Comendador). Água mole em pedra dura/quer chumbo porque pula (Tenório). Não fique pensando/que dessa vai escapar ileso/porque o que tens de altura/é o que tens de coragem (Comendador). O que dizes, javali?/Dom Juan de medo não peca/se não mudar o tom/te fatio em bisteca (Tenório). Os dois começam a lutar, mas Tenório, totalmente desgovernado, vai para o lado oposto com a espada a postos, enquanto todos o observam com espanto. Tenório faz o movimento que enfia a espada e lhe tira o sangue, mas ele percebe que o comendador está do outro lado e volta a fazer movimento de luta com a espada. Tenório atinge a poupança de Carlos, que declama: Por meu patrão, fui traído/que varou meu coração/e agora vou morrer inerte/no meio do vespeiro/pois fui ferido de morte/na região do traseiro. E Carlos desmaia. Isso aconteceu infeliz/porque de cara não me quis (Brígida). Continuemos... (Tenório). Quando Tenório se vira, é atingido pelo Comendador (a espada simplesmente fica entre o braço e o corpo, como se ela o atravessasse).
Tenório morre nos braços de Inês
Tenório agoniza por alguns segundos, até que, antes de cair no sofá, ele pega a espada atravessada e com ela limpa o móvel onde cairá. Carinho! Meu rei! Tesouro. Está ferido, meu amor? Responde, isso dói muito? (Inês). Só dói quando eu rio (Tenório). Me diz que se sente bem/se não for assim/prefiro já logo morrer também (Inês). Celebrar já não poderei/meu aniversário em janeiro (Tenório). Oh, por quê? Responde, por quê? (Inês) Por que eu nasci em fevereiro (Tenório). Ah, que mais tendes a dizer?/diz a verdade, amorzinho/tu achas que vai morrer? (Inês). Ainda tem um tempinho (Tenório). Oh, não/que será de mim? (Inês). É óbvio/virão a ti muitos galãs estranhos/mas você tem que me prometer que/antes de quatro anos/com ninguém se casarás (Tenório). Pois eu juro que não vacilo/isso prova que me amas (Inês). Já posso morrer tranqüilo (Tenório). Você disse quatro semanas? (Inês). Tenório morre, Inês dá um grito e chora.
O criado morre junto com o comendador
Carlos ainda se levanta e, antes de morrer, diz: Por culpa de uma mulher/deram cabo do criado/mas se eu tenho que morrer/que me acompanhe o culpado. Carlos finge puxar uma espada, mas percebe que não está armado. O comendador começa a rir. Carlos então dá um pontapé no comendador. Pelo covarde fui acertado/e eu digo não é por nada/acertou-me uma patada/com a bota envenenada (Comendador, que cai morto junto com Carlos). Mas que macumba de efeito/estou a olhar tanto defunto/e vendo tantos homens juntos/não posso tirar proveito (Brígida). Inês e Brígida choram juntas enquanto ficam estirados os cadáveres de Tenório, Mejía, do criado e do comendador.
Mortos, todos se reencontrarão no cemitério
Depois, no cemitério, Tenório senta em cima de um túmulo. Sinto um calafrio/e me gela o coração/isso aqui é uma tumba/logo estou num panteão/sinto que alguém se aproxima/mas tenho que fazer verso/aproxima com que rima?/me saiu sem grande esforço. Com um lampião, chega o coveiro (Ramón Valdez) cantando de maneira hilariante, dançando e com voz de bêbado "Não tava morto, só andava falecido". Quando o coveiro percebe a presença de Tenório, pergunta: Procura alguma coisa, cavalheiro?. Me chamo Dom Juan Tenório (Tenório). Eu sou o coveiro deste triste "cemitório" (Ramón). Nem todo mundo nasce poeta... (Tenório).
"Não tava morto, só andava falecido", música já na boca do povo CH
Me perdoe se te digo que/pelo fraco e o grotesco/por um minuto pensei/que sereis um morto fresco (Tenório). Que que foi, que que foi, que que há? (Ramón).Quero saber uma coisa/me responda sobre o assunto/quem descansa em tanta cova? (Tenório). Um punhado de "defonto" (Ramón). Não é "defonto", é defunto/mas se tu preferes/apelide-os de presunto (Tenório). Bom, então são "presontos" (Ramón). E são gente que conheceu? (Tenório). Não, são gente que morreu (Ramón).Não me causa estranheza/já que ultimamente/um detalhe conhecido/morrendo está muita gente/que antes nunca havia morrido (Tenório). Tenório observa o túmulo e se espanta. Gente, olhe o que eu vi/isso parece irrisório/veja o que diz aqui/"aqui jaz Dom Juan Tenório" (Tenório). E você pensa que eu não vi?/se não faz nem meia hora que estava passando/e ti vi sair de sua sepultura (Ramón). De uma sepultura? Não/não entendo o que faria nela/acaso pensa que eu...? (Tenório).Também esticou as canelas (Ramón). Quer dizer que dessa vez/todo mundo faleceu? Dom Luís, Dom Gonzalo, o criado, eu... mas e Dona Inês? (Tenório). Yes/e se tiver alguma dúvida/aqui está sua sepultura (Ramón). É sua tumba/isso é óbvio/de que morreu/o que tinha? (Tenório). Morreu de panela (Ramón). Panela? (Tenório).Veio uma carroça e pá... nela (Ramón, que gesticula com as mãos representando alguém atingido por alguma coisa). Em cima da tumba de Inês (localizada do lado da de Tenório), aparece o seu fantasma. É um fantasma outra vez/minha querida Dona Inês (Tenório). Ramón começa a cantar e dançar: "Não tava morta, só andava falecida". Tenório o fita irritado, e o coveiro pára de cantar.
Pra cada fantasma, o coveiro canta a musiquinha
Sou um fantasma que vive/imune a qualquer gozação/mas tu já és um bobão/com medo de assombração (Inês). Não diga essa blasfêmia/quando me viu assustado?/mas mudando de assunto/como tens passado? (Tenório). Podes ver que eu desfruto/mas é claro, não é uma coisa assim que se diga/nossa, que cômoda que é esta cova/eu estou lá no purgatório/rezando pelo Tenório. Mas e você/o que conta? (Inês). Assim, assim, assado (Tenório). Que significado tem?(Inês). Silêncio, aí vem alguém (Tenório). Mas é claro que sim, senhor/meu pai, o comendador (Inês). Assim que aparece o fantasma do comendador, Ramón canta mais uma vez "Não tava morto, só andava falecido", parando logo com mais um olhar indignado de Tenório. Não agüento esses apertos/responda-me/vós sabeis/por que não fazem sepulturas/tamanho 56? (Comendador, se dirigindo ao coveiro). Por enquanto és obeso/mas logo perder peso (Ramón). O fantasma de D. Luís Mejía também aparece. Esse que aparece ali/não é por acaso D. Luís Mejía? (Tenório). Seguramente que sim (Comendador). Quem diria que eu o veria? (Tenório). Pois bem, D. Juan, aqui estamos/depois de alguns desacertos/para sempre condenados a viver por entre os mortos (Mejía). Posso fazer uma proposta? (Tenório). De que tipo? (Mejía). Outra aposta/já que estamos aqui juntos/quem causa mais zoeira/quem revira mais defuntos/se namora mais caveiras (Tenório). Mejía dá a entender que concorda com a sugestiva aposta. FIM DO EPISÓDIO.
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