sábado, 27 de fevereiro de 2016

UMA LIÇÃO QUE VEM DO PIAUÍ


O SBT publicou esta semana um anúncio de página inteira vangloriando-se de ter sido sua a primeira imagem a chegar por televisão em uma cidadezinha perdida no sertão do Piauí em 1993 baseando-se em reportagem divulgada por um jornal paulista. Matérias deste tipo não são de hoje e costumam freqüentar as edições dos jornais, revelando as curiosidades e as ambivalências do país. Não importa. A reportagem está lá e se tornou motivo de promoção para o SBT. Não chegaria a ser também razão para espanto não fosse o fato de que o primeiro programa assistido pelos moradores de Lagoa do Barro, a 530 km de Teresina, foi a comédia mexicana Chaves. Como exemplo de ingresso da pequena cidade na modernidade.

Tudo isto poderia ser apenas mais uma das curiosidades do Brasil, mas traz embutido um aspecto um pouco mais sério, pois ingo artur campos reis,prefeito da cidade na época falou mal[pra variar, nos anos 90 ninguem reconhecia o sucesso de chaves] do chavinho:

"Poderia ser um bom motivo para o SBT se envergonhar de sua programação medíocre, mas isto vem confirmar a falência do sistema nacional de televisões educativas. Além de nunca ter se aparelhado para levar seu sinal a localidades tão distantes quanto Lagoa do Barro, onde, aliás, sua ação deveria ser prioritária, deixou, por omissão, que aquela população carente se sintonizasse com a sociedade nacional através da imagem de Chaves. Que tipo de ganhe aquela comunidade piauiense pode ter a partir de seu acesso à televisão? Nada, além de constatar que Lagoa do Barro, afinal, não era tão atrasada assim"

Vale, então, perguntar para o que servem as televisões educativas. É claro que também não se pode considerar que algumas aulas de Química ou Português respondam à questão. E os programas de educação à distância, consumindo milhares (ou milhões) de dólares, não vão além dos limites do comodismo de seus sinais urbanos. Aliás, este sistema de televisões educativas nunca chegou a constituir um modelo útil para o país. Elas são chatas, pobres, malfeitas e, por ausência, acabam valorizando as imagens de Chaves.

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