domingo, 10 de janeiro de 2016

MESTRES DA COMÉDIA? VAMOS DEBATER...
Bem, Chespirito descobriu a fórmula do sucesso no final dos anos 60. Essa fórmula se chamava comédia pastelão. Assim como Chaplin, Chespirito é considerado um dos maioresMestres da Comédia Pastelão de todos os tempos. Terá sido por conta disso que os episódios da série “Chespirito” não deram muito certo? Bem, essa coluna tem o intuito de mostrar que nem sempre o que faz rir é o absoluto.
Vamos tentar construir essa linha de raciocínio através de uma linha de tempo. Tão logo, vamos voltar aos remotos tempos do cinema mudo com o Mestre Chaplin, até chegarmos em Chespirito.
1914
Charlie Spencer Chaplin é contratado por Mack Sennett – dono dos estúdios Keystone Comedies – por um ano. Esse contrato dizia que o aspirante a ator teria que realizar 35 comédias de curta-metragem* dentro do período citado. Após realizar 12 comédias sob direção do próprio Sennett, Mabel Normand e de Henry Lehrman, convenceu seu patrão a deixá-lo dirigir seus próprios filmes, assumindo todos os riscos decorrentes de um possível fracasso nas produções. O trato foi aceito e Chaplin, raramente, esteve sob direção de um terceiro a partir daí, por todo o resto de sua carreira. Chaplin terminou de cumprir seu contrato na Keystone, realizando os ditos 35 filmes no prazo estabelecido.
* NESTE PERÍODO, CHAPLIN ATUOU NO PRIMEIRO FILME DE LONGA-METRAGEM DA HISTÓRIA DO CINEMA AMERICANO. A OBRA NÃO ESTAVA PREVISTA EM CONTRATO E FOI O ÚNICO DESSA FASE.
1915 / 1916
Terminado seu contrato com a Keystone Comedies, Chaplin migrou para a Essanay. O ator foi contratado para rodar 14 comédias em um ano. Teve total autonomia na direção dos curtas. A popularidade do ator aumentava a cada dia, fazendo com que já tivesse abrigo para seu próximo contrato.
1916 / 1917
Em 1916, Chaplin deixou a Essanay, após cumprir seu contrato e já fechava com a Mutual Film Corporation. Esse período, que durou mais ou menos um ano e meio, foi o mais promissor da carreira do astro. Realizou 12 comédias – as melhores da fase de filmes curtos.
1918 a 1923
A partir daí, os filmes começaram a ganhar novas durações e direções. Ao termino do contrato com a Mutual, Charlie fechou com a First National para a realização de oito filmes. O primeiro deles, foi a comédia sentimental Vida de Cachorro. Ao longo do período, realizou duas comédias de guerra e, alguns outros gêneros – nem sempre unidos à comédia. Em 1921, estreou O Garoto. Um filme puramente dramático e sentimental que acabou se transformando na principal obra-prima do cineasta.
1923 a 1952
Este acabou se transformando no período mais famoso do cineasta. E, não foi aqui que Charlie fez suas melhores comédias.
Em 1925, Charlie realizou o drama A Corrida do Ouro; o filme teve algumas pequenas seqüências cômicas.
Em 1928, realizou O Circo. O filme é basicamente engraçado, porém, com final triste.
1931 foi um ano marcante para o cineasta; pois iria para as telas o clássico dramático Luzes da Cidade, cujo final é considerado até hoje o mais inesquecível da história do cinema.
Em 1936, Chaplin realizou o filme de despedida do Vagabundo Carlitos – sua imortal personagem. O filme é uma mistura de comédia dramática com toques políticos. Verdadeiro clássico.
1940 foi o ano em que finalmente Charlie se rendeu ao cinema falado – que já existia desde final de 1928. Realizou O Grande Ditador, filme abertamente político, que trazia à tona os horrores da guerra de Hitler. É considerado um dos maiores clássicos de todos os tempos, principalmente da carreira de Chaplin.
Em 1952, Charlie realizou Luzes da Ribalta. Grande drama musical com grandes toques de sentimentalismo – talvez o filme mais autobiográfico da carreira do cineasta. Conta a história de um palhaço profissional em decadência e de uma bailarina psicologicamente inválida, que tenta o suicídio. Muitos cinéfilos chegam a citar Luzes da Ribalta como forte concorrente ao primeiro lugar, ao lado de O Garoto e Luzes da Cidade.

FINAL DOS ANOS 60
Eis que surge, na extinta TV TIM, um ator que, assim como Chaplin, entraria para a história. Porém, com esse, haveria uma grande diferença: seus fãs não veriam com bons olhos que o mesmo fugisse eventualmente das comédias.
A fórmula do humor de Chespirito é a comédia pastelão, já consagrada no cinema desde os mais remotos tempos do mesmo, como vimos acima.
No final dos anos 60, seu programa contava com quadros, hoje clássicos, apesar de pouco conhecidos no Brasil, como Los Supergenios de La Mesa CuadradaCiudadáno Gómez, entre outros. Aliás, foi nesse programa que Chespirito criou o famoso Chapolin Colorado.
Logo depois, apareceu o não menos famoso Chaves.
Em 1973, Chaves e Chapolin tornaram-se programas independentes e ganharam episódios de meia hora.
Até 1979, Chespirito escreveu com bastante inspiração os quadros dos programas que, logo, ficariam sendo amplamente conhecidos, sendo exibidos em mais de 120 países – até hoje.
Em 1980, Chespirito voltou a gravar o programa de quadros com vários personagens, extinguindo – para sempre – seus tradicionais programas Chaves e Chapolin.
Seus programas iniciais ainda são bem aceitos pelos fãs das clássicas séries; porém, de determinada época para frente, quando a personagem Chompiras ganhou a partida e se tornou o carro-chefe do programa com episódios que nem sempre eram de pura comédia, a popularidade da série começou a cair, a ponto de que mesmo os grandes fãs dos atores que compunham o elenco não apreciarem a ideia.
Porém, o grande artista não é feito somente de um gênero, por mais que tenha ficado conhecido por conta dele. Temos aí o belo exemplo de Chaplin, que ficou rico e famoso por fazer comédias-pastelão de curta-metragem de 1914 a 1917, mas o que deu sua eterna popularidade e título de homem mais famoso do mundo foram os dramas sentimentais e musicais – a maioria de longa-metragem – que realizou a partir de 1918.
Considero Chespirito um grande injustiçado. Sua mente foi tão brilhante para os outros gêneros como foi para a comédia durante muitos anos.
Principalmente nos anos 90, Chespirito esteve mais inspirado que nunca a realizar criminais, romances, mistérios, entre outros.
Um de seus melhores episódios nos anos 90, embora desconhecido no Brasil, foi um mistério-criminal, no qual a personagem principal era Chompiras. Chimoltrufia presencia um assassinato num banheiro público e suas meias, pouco populares, foram vistas pelo assassino, que passou a persegui-la para eliminá-la. Há no episódio três suspeitos de ser o assassino e o público só sabe realmente quem foi o autor do crime no minuto final do episódio.
Outra trama criminal genial que Chespirito realizou nos anos 90 é quase um filme (contendo 2 partes de 40 minutos cada). No episódio, Chimoltrufia arruma um emprego de doméstica. A dona da casa planeja assassinar seu marido infiel. Chimol se transforma numa vítima das circunstâncias, sendo acusada do assassinato do patrão. Botijão – seu marido – assume a culpa para salvá-la da cadeia. A revelação da verdadeira assassina na cena final foi simplesmente magistral. O próprio defunto deixou sua revelação, no momento em que dava seus últimos suspiros.
Há também uma história em que um antigo empregado do Hotel Boa Vista – onde trabalham Chompiras, Botijão e Chimoltrufia – quer assassinar  Cecílio – dono do Hotel – por tê-lo demitido há um tempo. No final do episódio, mostra-se a grande e conhecida lição de que o crime não compensa.
Não posso deixar de falar de um dos melhores episódios do gênero, onde um perigosíssimo sósia de Chompiras foge da cadeia e tenta escapar do país. Comete um erro ao se disfarçar de mulher usando mini-saia, deixando à mostra uma cicatriz em formato de coração na barriga da perna. Ele acaba preso, confundido com Chompiras, e consegue uma fuga inacreditável. O episódio também é composto de duas partes de 40 minutos cada. Genial.
Outra trama do gênero – também com duração total de 80 minutos – conta a história do Gorila, um criminoso que acabou de cumprir pena e está em liberdade. Procura seu desafeto do passado – Sargento Refúgio que o prendeu – e uma antiga pretendente – a Marujita – para cumprir suas ameaças: assassinar o Sargento e casar-se com Marujita. Nossos amigos – Chimoltrufia, Chompiras, Refúgio e Marujita – tentam armar um flagrante de agressão para justificar a volta do Gorila à cadeia. O final é surpreendente.

Outro grande episódio é nada mais que um romance. O Sargento Refúgio pede sua amada Marujita em casamento. Com a proposta a pensar, Marujita tenta se livrar de umas cartas que recebeu de antigos namorados para que o Sargento nunca as leia. Por uma ironia do destino, as cartas vão parar exatamente nas mãos do Sargento. A história tem final triste e, ao mesmo tempo, surpreendente e comovente.
Houveram outros grandes episódios com teor que fugia à comédia e, que não alcançaram 5% do sucesso que os demais episódios clássicos das séries Chaves Chapolin. Por isso digo que Chespirito é um injustiçado.
Outro fator que foi determinante para o fracasso da série Chespirito está presente até mesmo nos episódios cômicos, pois, todos estão acostumados à comédia-pastelão, que se resume em tombos, socos e pontapés; coisas que já não estavam tão presentes na série em questão, até pela idade e não tão boa forma física do elenco. Era mais humor de texto, que não agradou muito aos fãs. Mais uma vez, temos de lembrar de Chaplin; suas comédias de 1914 a 1917 eram puramente pastelão. Depois disso, as poucas comédias que realizou já eram mais refinadas.
 recomendo a todos os fãs do elenco que saibam enxergar a obra por todos os ângulos e apreciar a mesma como ela é. Afinal, só o que mudou foi o jeito de trabalhar, mas a genialidade é a mesma; pois da forma, como encaram a obra, parece que não são fãs de Chespirito e sim, fãs de comédia somente.

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